domingo, 18 de maio de 2008

Aula São Bernardo - Graciliano Ramos

Biografia de Graciliano Ramos(1892-1953)
• Graciliano Ramos (1892-1953) foi escritor, revisor de jornal e diretor a Imprensa Oficial de Alagoas.

• É um dos grandes nomes da Segunda Geração do Modernismo brasileiro(1930-45).

• Grande expoente do romance regionalista, Graciliano apresenta estilo marcante com textos secos e enxutos.

• Suas principais obras são Vidas Secas e São Bernardo, que abordam temas como a seca, o corenelismo, a miséia e a força do povo nordestino.
• Durante o Estado Novo, ao ser acusado de ligações com o Partido Comunista Brasileiro, Graciliano é preso. As experiências vividas na prisão seriam, posteriormente, relatadas em seu livro Memórias do Cárcere.
• Graciliano escreveu crônicas para os jornais O Índio (Palmeira dos Índios), Jornal de Alagoas (Maceió) e Paraíba do Sul (Paraíba do Sul, RJ), sendo que muitas delas forma reunidas em livros.

O narrador
• Paulo Honório
• Narrador em 1ª pessoa (narrador-personagem)
• Um “eu protagonista”
• Um narrador que é escritor e protagonista
• Um narrador que constrói uma narrativa na tentativa de recompor a sua existência, recapitulando-a para si e para seus leitores

Estrutura narrativa
• 36 capítulos curtos:
• 1 e 2 – falam das dificuldades de Paulo Honório para escrever o relato
• 3 a 16 – estão centrados na posse e desenvolvimento de São Bernardo
• 17 a 36 – tratam da tentativa de posse de Madalena, o fracasso dessa posse e conseqüente destruição de Paulo Honório e da Fazenda São Bernardo
• Tempo linear (com exceção de uma pequena digressão no capítulo 13):
• Cronológico, memorialístico e psicológico


Os quatro movimentos da obra
• A ascensão

• O casamento

• Os ciúmes

• A queda

São Bernardo – A FAZENDA
• Paulo Honório exerce, pois, um duplo papel no romance:

• Há o fazendeiro:
• homem ambicioso que constrói a mais importante propriedade rural da região;
• Que tem cerca de 50 anos
• Filho de pais desconhecidos, que teve infância pobre e que foi criado pela velha Margarida, uma vendedora de doces

• DA AMBIÇÃO DE PAULO HONÓRIO É RECONSTRUIDA A SÃO BERNARDO, FAZENDA.

São Bernardo – O LIVRO
• e há o escritor que tenta entender as razões de seu fracasso existencial.
• Esse escritor, Paulo Honório, acha que não teria condições de escrevê-lo, devido à sua rudeza e às suas poucas letras. Tenta resolver o problema através da divisão do trabalho: padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; o advogado João Nogueira com as questões gramaticais e o jornalista Azevedo Gondim com a composição literária. Mas só o jornalista aceita a tarefa. O seu estilo pernóstico e complicado desagrada profundamente a Paulo Honório, que decide ele mesmo escrever o relato, utilizando uma linguagem coloquial e aparentemente anti-literária.
• DESSA ESCRITA NASCE A AUTO-REFLEXÃO E A CONSCIÊNCIA DE SEU FRACASSO EXISTENCIAL





............................. PAULO HONÓRIO
..................................... X
............................ MADALENA

A brutalidade, os gestos rudes e os ciúmes de Paulo
.......................................X
O jeito amoroso e carinhoso de Madalena
....................................... ***
Fazendeiro, homem, alma patriarcal, linguagem rústica e bárbara
.......................................X
Professora, dotada de qualidades intelectuais, causa admiração e inveja ao marido rústico
....................................... ***
...................................Rigidez
.......................................X
.........................Bondade, generosidade
....................................... ***
Suicídio de Madalena = recusa a desumanização de Paulo Honório e a reafirmação de sua impotência perante à realidade concreta

Outras Personagens
• Luís Padilha - herdeiro que perde a fazenda para Paulo Honório, é um dos símbolos da antiga oligarquia rural nordestina (o outro é seu Ribeiro). A sua incompetência transforma-se em ressentimento e, em seguida, em idéias revolucionárias de esquerda. Sobrevive como professor na escola da fazenda e no final adere aos rebeldes de 1930.

• Seu Ribeiro - guarda-livros de Paulo Honório, fora um poderoso senhor patriarcal no passado, mas não soubera acompanhar as mudanças históricas, afundando com o seu mundo. Ele representa os melhores valores de um patriarcalismo já morto, na medida em que sempre aplicou a justiça e ajudou a sua gente. Mesmo arruinado, continua cheio de princípios e de ética.

• Azevedo Gondim - jornalista venal, aluga a pena para defender os interesses de Paulo Honório, fechando os quatro pontos de apoio de seu poder: o jagunço, o padre, o advogado e o jornalista.

• D. Glória - a tia de Madalena (e sua única familiar) mostra a face desprotegida das mulheres pobres livres que, não tendo se casado e não possuindo uma profissão, vivem do favor de parentes.

• Casimiro Lopes - figura clássica do capanga do antigo sistema rural pré-capitalista, revela, tanto em sua fidelidade ao patrão quanto na sua frieza assassina, a forma como os conflitos pela posse da terra eram resolvidos. Curiosamente, o jagunço é o único ser que parece gostar do filho de Paulo Honório e Madalena, assemelhando-se neste aspecto a personagens de Jorge Amado e a outros capangas que surgem em Angústia e Infância, do próprio Graciliano.

• Padre Silvestre - encarna a Igreja em sua vinculação aos poderosos e sua aguda percepção de para onde sopram os ventos da História. A adesão do padre aos revolucionários de 30 é óbvia: afinal eles são os novos donos do poder. Óbvia também é a sua ruptura com Paulo Honório porque este não apóia a Revolução.

• João Nogueira - advogado do narrador, usa o saber jurídico, a esperteza amoral e a amizade com o juiz para favorecer seu cliente em pendengas sobre as terras.

A metalinguagem
• Linguagem que fala da linguagem

• Metalinguagem = reflexão sobre a existência

• Pequenas conversas ou interpelações do leitor:

“Tornei a encontrar a mocinha loura. Eu voltava da capital, aonde tinha ido por causa do sem-vergonha do Brito. A coisa se deu assim. Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei duzentos mil-réis àquele pirata), ...” (cap. 13)