quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aula de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (Mia Couto)

Desculpem a demora para a postagem mas tive pequenos problemas para postá-la, abraço e boa prova!

No princípio,
a casa foi sagrada
isto é, habitada
não só por homens e vivos
como também por mortos e deuses

Sophia de Mello Breyner (Epígrafe da obra)

O Autor
• António Emílio Leite Couto, Mia Couto, nasceu em Moçambique, na cidade da Beira, em 5 de Julho de 1955. O pai, Fernando Couto, emigrante português natural de Rio Tinto, foi jornalista e poeta, pertencendo a círculos intelectuais, do tipo cineclubes, onde se faziam debates. Chegou a escrever dois livros que demonstraram preocupação social em relação à situação de conflito existente em Moçambique.

• Mia Couto publicou os primeiros poemas no jornal Notícias da Beira, com 14 anos. Iniciava assim o seu percurso literário dentro de uma área específica da literatura – a poesia –, mas posteriormente viria a escrever as suas obras em prosa.

• Em 1972, foi para Lourenço Marques estudar medicina. A partir de 1974 enveredou pelo jornalismo, tornando-se, com a independência, repórter e diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM), da revista semanal Tempo e do jornal Notícias de Maputo.
• Durante muitos anos, o escritor viveu sob o fogo cruzado da guerra de libertação do seu país. De 1972 a 1975 (data da independência de Moçambique) participou na guerra como membro da Frelimo, a frente de libertação liderada por Samora Machel, o que o obrigou à clandestinidade.

• Em 1985, regressou à Universidade de Eduardo Mondlane, em Lourenço Marques, para se formar em biologia. Em 1992, foi o responsável pela preservação da reserva natural da Ilha de Inhaca. Actualmente dedica-se a pesquisas nesse âmbito, exercendo também, como biólogo, a profissão de professor universitário, além de dirigir uma empresa de estudos sobre impacte ambiental.

A obra de Mia Couto:
Raiz de Orvalho – 1999 (poesia)
Vozes Anoitecidas – 1987 (contos)
Cronicando – 1991 (coletânea de crônicas)
Cada Homem é uma Raça – 1990 (contos)
Terra Sonâmbula – 1992 (romance)
Estórias Abensonhadas – 1994 (contos)
A Varanda do Frangipani – 1996 (romance)
Contos do Nascer da Terra – 1997 (contos)
Mar me quer – 2000 (romance)
Vinte e Zinco – 1999 (romance)
O Último Voo do Flamingo – 2000 (romance)
Na Berma de Nenhuma Estrada e Outros Contos – 2001 (contos)
O Gato e o Escuro – 2001 (contos)
Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra – 2002 (romance)

Alguns personagens:
• Avô Dito Mariano (pai)
• Avó Dulcineusa
• Tia Admirança
• Mariavilhosa
• Fulano Malta
• Abstinêncio
• Ultímio
• Mariano (neto/filho)
• Dr. Amilcar Mascarenha
• Mulato Tuzébio
• João Loucomotiva
• Padre Nunes
• Miserinha (cunhada de Dulcineusa)

O tempo e a terra:
• Rio – o masculino frágil, fluido, instável, assim como os homens da narrativa que demonstram seus sentimentos e fragilidades.

• Terra – o feminino, o lugar da segurança, da fortaleza, a casa, o local da junção de vivos e mortos.

Os espaços e o tempo:
• A casa – Nyumba-Kaya – “‘Nyumba’ é a palavra para nomear ‘casa’ nas línguas nortenhas. Nos idiomas do Sul, casa se diz ‘Kaya’”
• A cidade e a ilha
• A modernidade e a tradição.
• A casa como mãe/mulher e a importância das personagens femininas
• A casa como terra semeada que precisa ser regada e que é fonte de vida e de manutenção das tradições
• Mariano (neto) e Ultímio – perigo às tradições?
• “O importante não é a casa onde moramos. Mas onde em nós a casa mora” (p. 52)
• Mariano como o defensor da casa e das tradições
• Travessia (horizontal) – rio
• Ascensão (vertical) – árvore
• Mariano (neto) – cumpridor do ciclo das visitas (“visitou casa(nascimento), terra(crescimento), homem(amadurecimento), rio(morte)”)

Críticas sustentas na obra
• Ao imperialismo europeu e à colonização

• À hipocrisia humana, das pessoas na sociedade (o caso de Lopez que violentou Mariavilhosa, apesar de aparentar ser um católico santo e fervoroso; o padre Nunes; o Tio Abstinêncio; Ultímio, Avô Mariano).

Outros aspectos relevantes
• O narrador de 1ª pessoa e a utilização do discurso direto e discurso indireto;

• As cartas – a importância dessa linguagem para o desenvolvimento da trama;

• A confluência dos planos do real e do fantástico (cenas como a da morte e a nuvem ou a da morte de Mariavilhosa)